Monday, January 29, 2007

Flamingo Phoenicopterus roseus

De pescoço flectido e de cabeça meio submersa, filtram, incessantemente, as águas pouco profundas. É frequente vê-los apoiados apenas sobre uma pata durante longos períodos de tempo, num autêntico número de equilibrismo. A sua bela, mas algo curiosa, fisionomia, bem como a cativante cor da plumagem, lembram países exóticos e distantes e no entanto, na realidade, os flamingos podem ser observados bem perto.
Apesar da sua ocorrência ter sido esporádica em Portugal até ao início do século XX, segundo as anotações do Rei D. Carlos de Bragança, grande apaixonado e conhecedor da fauna portuguesa, é possível que os flamingos se tenham reproduzido em Portugal, a sul do Rio Guadiana, durante o século XIX. Mais tarde, já a partir dos anos oitenta, passou a ser uma ave de presença frequente no nosso país, todavia, não se tornou a reproduzir em terras lusas. Hoje em dia, não são raras as vezes, que os olhares mais atentos conseguem observar grupos destas aves a alimentar-se nos estuários do Tejo e do Sado, na Ria Formosa e em Castro Marim.



O flamingo possui um dos bicos mais excêntricos do grupo das aves. Tal como algumas baleias é um animal filtrador, pelo que se alimenta, mergulhando a cabeça invertida na água. Com o bico semicerrado, a sua espessa e carnuda língua move-se rapidamente para a frente e para trás, a uma velocidade de cerca de dezassete movimentos por segundo. Este poderoso instrumento funciona como um êmbolo que bombeia água e alimento para o interior do bico. Pequenas estruturas rígidas fixas às mandíbulas, as lamelas, retêm as partículas em suspensão na água. Posteriormente, as protuberâncias da língua raspam o alimento e este é ingerido. Neste complexo e especializado processo, o flamingo ingere sobretudo pequenos invertebrados, que incluem insectos, moluscos, crustáceos e anelídeos.


Embora actualmente não haja registos de reprodução, as zonas húmidas portuguesas são palco importante para descanso e alimentação de muitos adultos e juvenis. Porém, aqui, tal como no resto da Europa, os flamingos não estão livres de perigo. A poluição, o abandono e transformação das salinas (que são muito utilizadas por estas aves), a pressão urbanística e turística e a caça ilegal são algumas ameaças que pairam sobre estas aves. Felizmente, actualmente o flamingo é relativamente comum em terras lusas. No Inverno chega a atingir picos da ordem dos sete mil indivíduos. Ás portas de Lisboa, quase basta atravessar a Ponte Vasco da Gama e espreitar sobre a Reserva Natural do Estuário do Tejo, para desfrutar do encanto destas magníficas aves cor-de-rosa.

Friday, January 19, 2007

Bufo-real Bubo bubo

Eminência nocturna
No cimo de uma saliência rochosa, o senhor da noite chama a companheira e afasta competidores fazendo ecoar na silenciosa escuridão, a sua poderosa e, por vezes, assustadora cantiga. Repentinamente, sem provocar o mais leve ruído, lança-se no vazio, alternando o bater das suas poderosas asas, com o planar no infinito. O Bufo-real ostenta o título de maior mocho da Europa. Na realidade, só mesmo na África do Sul é que existe outro com igual dimensão. Todos o conhecem como o simpático mestre e sábio das fábulas infantis, que todos os animais da floresta respeitam, admiram e a quem pedem conselhos nos momentos de apuros!

Robusto e forte, com enormes olhos cor-de-laranja e característicos penachos auriculares, caça as suas presas esperando pacientemente no alto de uma árvore ou de uma rocha.

Os bufos-reais mantém-se fiéis ao parceiro durante toda a vida, mas apesar do casal partilhar o mesmo território de caça, são animais solitários e territoriais que não demonstram grandes intimidades. Durante o dia, o casal dorme separado a algumas centenas de metros de distância, em saliências rochosas, árvores, postes eléctricos e até mesmo em construções humanas, como telhados de armazéns e ruínas.


Considerada como “destruidora da caça”, esta espécie foi perseguida através do abate a tiro e da utilização de iscos envenenados, sobretudo durante os séculos dezanove e vinte.

Apesar de continuar a ser alvo de perseguição, o papel chave que o bufo-real desempenha nos ecossistemas é reconhecido por todos os que se interessam pelos valores naturais e pela preservação da biodiversidade.

Friday, January 12, 2007

Tartaruga-comum (Caretta caretta)

Do outro lado do Atlântico


Lentamente o sol começa a pôr-se e a noite dá lugar a uma movimentação subterrânea. A areia pulsa de vida. A expectativa aumenta e a vontade de sair da clausura permite que se quebrem todas as barreiras para uma nova vida, longe de ser fácil. Aos poucos, aparecem pequenas cabeças e barbatanas à superfície e as pequenas crias de tarataruga-comum, com apenas cinco centímetros de comprimento, começam a emergir e numa corrida lesta dirigem-se para o mar. O caminho aberto na areia é arriscado. Ovos e recém-nascidos são bastante vulneráveis a predadores. Os ovos, para além de serem susceptíveis a bactérias, são um manjar apetitoso para caranguejos, aves, répteis, cães, e inclusive para o homem. As recém-eclodidas tartarugas enfrentam igualmente inúmeros predadores, tanto em terra, como no mar. Estima-se que por cada mil tartarugas que nascem apenas uma ou duas atinge o estado adulto.


As tartarugas marinhas distinguem-se das de água-doce sobretudo pelas suas características anatómicas. Possuem carapaças com formas hidrodinâmicas, o que facilita a deslocação no mar e as suas patas adaptaram-se de tal forma à deslocação no mar que funcionam como perfeitas barbatanas.

Embora as posturas e a capacidade reprodutora desta espécie sejam elevadas, o facto é que o seu nome engana e hoje em dia está considerada em perigo de extinção, tendo o tamanho da sua população sofrido uma redução de pelo menos cinquenta por cento nas últimas três gerações.



Nos dias de hoje todas as espécies de tartarugas marinhas estão classificadas como ameaçadas e, desde 1979, encontram-se protegidas pela Convenção de Berna. Como são animais migradores que fazem grandes deslocações, é imperioso que se façam esforços concertados entre diversos países e entidades que visem a protecção destes répteis ancestrais, contemporâneos dos dinossáurios, e que se adaptaram de tal forma ao meio oceânico que o seu ciclo de vida se desenvolve quase todo aí.

Thursday, January 11, 2007

Lince-ibérico (Lynx pardinus)


Uma sombra viva


No meio da vegetação, um vulto quase imperceptível observa atento. Muitas vezes apelidado de guardião da floresta, o lince simboliza a perspicácia e a intrepidez, características que nos habituámos a ouvir de quem tem “olho de lince”.
Uma silhueta esbelta e esquiva de pelagem castanho-amarelada, ruiva, laivada de negro, caracterizam este felino que perscruta e vigia os recantos do bosque mediterrânico, onde o sub-bosque permite a perfeita camuflagem. Outra característica que lhe é muito particular deste felino é o facto de as extremidades das orelhas possuírem pêlos rígidos em forma de pincel.
É um caçador extremamente especialista, cuja dieta se baseia exclusivamente em coelho-bravo. Embora possa capturar igualmente patos, perdizes, roedores e lebres, sobretudo quando a disponibilidade em coelho é baixa, o facto é que este último é a sua presa favorita.
Actualmente o lince-ibérico é considerado o felino mais ameaçado do mundo, encontrando-se classificado como espécie criticamente em perigo de extinção pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.